sábado, 5 de julho de 2008

Entrevista: Irma Leite, do Uruguai

Militante histórica da esquerda no Uruguai, Irma Leite é uma das convidadas do I Congresso Nacional da Conlutas e do Encontro Latino-americano e Caribenho (ELAC), que começa na próxima segunda-feira. Crítica ferrenha do imperialismo americano e, por tabela, do sistema capitalista, Irmã é autora de um livro fundamental sobre a história das mulheres na ditadura do Uruguai. A obra será lançada durante o Congresso. Ela não poupa os governos da América Latina que se dizem de esquerda, mas na verdade atuam como serviçais do governo dos EUA. Durante o Congresso, Irma Leite conversou com a reportagem da Conlutas. Confira:

Conlutas - A senhora poderia fazer uma análise sobre a importância desse I Congresso Nacional da Conlutas?
Irmã Leite – Como militante classista, combativa e independente de todos os governos, participar desse Congresso é alentador. É emocionante e gratificante encontrar homens e mulheres que acreditam. A homenagem feita no debate de ontem (sexta-feira) ao manifesto comunista, que completa 160 anos, me emocionou bastante.

Conlutas - Com 160 anos (o manifesto comunista) é bastante atual...
I.L – Muito atual. Um documento histórico que ainda é fundamental para as lutas dos trabalhadores de todo o mundo.

Conlutas – O que representa, neste momento, o Elac para a senhora?
I.L – Um intercâmbio de experiência, uma parceria com a Conlutas e contra o capitalismo feroz . No Uruguai e no resto do mundo, o sistema capitalista não humaniza. É a propriedade privada. Fizemos uma grande manifestação no 1º de maio este ano com o apoio da Conlutas exigindo a independência política dos trabalhadores. Defendemos um 1º de maio sem patrões e sem governo. E ainda exigimos a retirada das tropas uruguaias do Haiti. Desenvolvemos um trabalho forte na área de direitos humanos, trazendo de volta para o debate centenas de companheiros desaparecidos na ditadura porque o sistema capitalista acomodou a ditadura.

Conlutas - Gostaria que a senhora falasse mais sobre essa acomodação...
I.L – A ditadura dos militares da América Latina acomodou o processo revolucionário que vinha se formando a partir da luta dos nossos militantes quando essas pessoas começaram a desaparecer. E, hoje, esses governos “progressistas”, que apareceram como a grande esperança, escondem os fatos. Mas nós não queremos a guerra imperialista nem a paz capitalista!

Conlutas – E o governo Lula nesse processo?
I.L – Não só o governo Lula, mas todos esses governos de direita da América Latina. São todos modelos da experiência imperialista. Brasil e Uruguai estão massacrando o povo do Haiti. O Lula encabeça essa iniciativa.

Conlutas – Quem é mais perigoso para a América Latina: Lula ou Chavez?
I.L – Esse é um debate muito interessante porque são governos que se apresentaram como de esquerda, mas fazem um governo capitalista. Chavez não tem uma posição clara. E esses governos não funcionam para os trabalhadores. Funcionam para outra classe, não para os trabalhadores.

Conlutas – Que mensagem a senhora deixaria para os militantes brasileiros da Conlutas?
I.L – O Brasil tem uma energia muito boa. Diria para as pessoas que continuem acreditando. No Uruguai, usamos uma frase em referência aos companheiros desaparecidos e mortos da ditadura e que pode simbolizar este momento: “Se estou em sua memória, sou parte desta história”.

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